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Ao ouvir outras pessoas sobre suas alegrias, angústias e dúvidas quis compartilhar minhas impressões sobre esses momentos que vivencio no desejo de ser útil.

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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Testemunha de passos e de sonhos


Para alguns sou apenas um sapatinho envelhecido pelo tempo. Para outros, sou testemunha dos primeiros passos de uma pessoa.

Muitos anos se passaram.
Nossa! Vão se espantar algumas pessoas quando me conhecerem. Tamanho grande para uma menina de seis meses! É verdade. A menina era grande. E muito esperta. Já ensaiava ficar em pé e dar seus primeiros passos.
A mãe correu a providenciar-me para inaugurar as primeiras passadas. Ela me encontrou em uma loja bem acanhada no centro da cidade. Pediu à vendedora que me embalasse em um lindo papel de presente.
E assim, eu fui parar naqueles pezinhos. Eles eram bem rechonchudos. Achei que não fosse servir para eles.
Mas olho de mãe não erra.
A menina calçou-me, embora sempre teimasse em tirar-me. Ela me via mais como um brinquedo. Porém, não demorou se acostumar comigo por insistência da mãe.
Quando, por fim, eu estava com o formato daqueles pezinhos, já estava na hora de deixar-me. O pezinho havia crescido mais um pouco e eu não servia mais. A mãe pegou-me com carinho, embalou-me novamente, e com o coração conformado pelo inevitável, me tornei um bibelô.
Passei anos dentro na caixa. E à medida que a menina crescia e envelhecia eu me tornava também envelhecido.
Passado tantos anos, a mãe me entregou para a menina que se transformou em mulher.
A dona dos pezinhos que um dia eu calcei, emoldurou-me e colocou-me juntinho dela numa parede de seu quarto.
Hoje, não acompanho seus passos, mas velo pelos seus sonhos garantindo que ela não perca seu jeito de menina.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Medo de ser palhaço

Dá um medo colocar um nariz vermelho e expor-se assim meio que caracterizado como palhaço. Mas com certeza é um desafio e tanto. Por um lado, a exposição do mais íntimo de você te deixa fragilizado. Por outro, a ousadia de inverter a ordem dentro de si, se revelar, pode torná-lo mais forte e seguro.
Além disso, nem todos são tão abertos e desejam ser tão espontâneos. Segundo formadores de clown (palhaço), você tem que ser você mesmo e não fazer graça para ser engraçado. De acordo com minha percepção fruto de minha pouca experiência com o aprendizado de palhaço, é muito difícil, até mesmo inquebrável a couraça que nos protege, como máscaras que adotamos para lidar com as situações do dia-a-dia.
Porém, é preciso relaxar, sobretudo diante do desconhecido - você.
Não desista. Aceite esse desafio. Mergulhe em si mesmo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Plena de mim

Eu estou onde tenho que estar.
Eu penso o que já teria que ter pensado.
Eu não quero ser o que pensava que era.
Não quero ser maior que outros. Ser do meu tamanho.
Não vivo mais dormindo. Mas durmo para sonhar livremente.
Eu caminho no passo e na linha da minha vida.
Eu teço a minha própria roupa que veste minha alma.
Eu busco a água na fonte destinada a mim.
Eu procuro ser e estar.
Eu me entendo assim e me amplio para entender-me.
Eu estou me conhecendo.
Eu me permito acreditar em mim e no outro.
Eu sou UNA. Eu sou TODOS.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Nem tudo são flores

Quem disse que na vida nem tudo são flores?
Acredito sim, que na vida tudo pode ser flores. Flores de todas espécies, cores e perfumes. Algumas estranhas em seu formato, outras de uma beleza incomum que nos chega a tirar o ar.
O fato de nossa vida conter agruras não significa que ela seja infeliz. Ser feliz ou infeliz é uma certeza na qual temos ou não.
O que fazemos de nossa vida rodeada de sobressaltos depende de nossa filosofia de vida.
Acreditar que apesar de tudo somos felizes depende do nosso olhar. Tem olhares tristes, melancólicos, alegres, otimistas, perversos, profundos ou superficiais. Mas todos ligados à sua crença de ser feliz ou não apesar de.
O que nos incomoda não pode ditar como levaremos nossa vida, nem por um instante devemos ceder a essa tirania de que estamos à mercê dos incômodos e dificuldades. Acredito em estabelecer limites para nos modificar diante de intromissões externas para que sejamos como bolos cozidos, desenformados e engolidos pelos convencionais.
Quebrar barreiras para que de fato nos afirmemos como pessoas inteiras e verdadeiras. Existimos e não podemos nos furtar de crescer e aparecer. Seja realizando para os outros, pelos outros ou por nós mesmos.
Construir maneiras de nos realizar nesse mundo pode ser que tenhamos que andar sobre uma estrada com flores e espinhos também. Mas com o tempo nossos pés vão ficando mais acostumados nesse caminhar e vamos aprendendo a retirar os espinhos e pedras do caminho.
Não podemos desistir e nos sentir infelizes pelo que vivenciamos. Somos humanos, preparados para viver entre pessoas e vivenciar relações construtivas.
O primeiro passo para viver sua felicidade é traçar seu caminho conforme sua alma. É permitir o visitar a outros caminhos e perceber as flores com todas as suas partes, espinhos, folhas, caules, pétalas e perfumes.
Não recusemos a oportunidade de viver intensamente, mas com leveza.
Estar no mundo é também estar com o mundo sem se perder de si mesmo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A crise de meia idade - Ser ou fazer, eis a questão.





Parece que o mundo virou do avesso e de dentro saiu um monstro assustador. Esse monstro chamado TEMPO.
Dizem que o TEMPO bate à sua porta; o TEMPO urge; o TEMPO voa; o TEMPO não pára.
Eu digo que o TEMPO é o TEMPO em qualquer TEMPO. O que muda é a nossa capacidade de observar o TEMPO e a posição em que estamos no TEMPO.
Eu sempre gosto de usar uma metáfora, como uma boa mineira, para exemplificar os nossos sentimentos: o TREM.
Se nossa posição é a de quem está em uma estação de trem, podemos nos sentir entediados pela espera. A espera nos impacienta e nos faz reparar os detalhes à nossa volta. Junte isso ao receio de que o trem possa não chegar logo ou se chegar não estarmos prontos para embarcar. Diferente para quem está dentro do vagão em movimento, o TEMPO parece voar. O passar da paisagem visto pelo quadrado de vista parece acelerar e distrai o observador. Não há dúvida. Uma hora chegaremos a algum lugar. É só deixar o trem andar.
A crise de meia idade nos pega na estação esperando o trem. Você tem olhos para suas reações, as dos outros, as de coisas externas a você. Somos assaltados pelos sentimentos antigos mal resolvidos que voltam intensos querendo solução imediata. Não cabem mais hipocrisias, mentiras, dissimulações. O interior, o indevassável se revela.
O sentimento de que teríamos que estar com a vida mais definida, não existe. Não para alguém inquieto, curioso e persistente em sua busca pela realização. O estar pronto não existe, também. A sensação é de que vamos nos construindo com o TEMPO.
Mas apesar de toda essa contestação da tão conhecida crise de meia idade, há uma estupefação diante do que sentimos.
A verdade é que não estamos acostumados na cultura ocidental a nos posicionar como observadores dos movimentos, internos e externos, e aí confundimos este estado, a fase em que a vida nos impele a diminuir o ritmo e olharmos para nós como se estivéssemos diante de um espelho. É estranho, incômodo, individual e desarmônico. O passar de uma fase a outra em nossa vida gera dúvidas, insatisfação, desânimos, fraqueza e sentimento de solidão. Chega a causar desequilíbrio orgânico. Calores, desânimos etc.
Mas, podemos ter a surpresa de que ao despertarmos um dia, após toda essa mudança, de estarmos nos sentindo melhores, mais livres de tantas amarras criadas para atendermos às convenções da vida, e finalmente, prontos para sermos felizes. Sem a pressa, sem ansiedade. Fluindo como o próprio TEMPO. E ver que apenas foi o TEMPO que passou.