Para alguns sou apenas um sapatinho envelhecido pelo tempo. Para outros, sou testemunha dos primeiros passos de uma pessoa.
Muitos anos se passaram.
Nossa! Vão se espantar algumas pessoas quando me conhecerem. Tamanho grande para uma menina de seis meses! É verdade. A menina era grande. E muito esperta. Já ensaiava ficar em pé e dar seus primeiros passos.
A mãe correu a providenciar-me para inaugurar as primeiras passadas. Ela me encontrou em uma loja bem acanhada no centro da cidade. Pediu à vendedora que me embalasse em um lindo papel de presente.
E assim, eu fui parar naqueles pezinhos. Eles eram bem rechonchudos. Achei que não fosse servir para eles.
Mas olho de mãe não erra.
A menina calçou-me, embora sempre teimasse em tirar-me. Ela me via mais como um brinquedo. Porém, não demorou se acostumar comigo por insistência da mãe.
Quando, por fim, eu estava com o formato daqueles pezinhos, já estava na hora de deixar-me. O pezinho havia crescido mais um pouco e eu não servia mais. A mãe pegou-me com carinho, embalou-me novamente, e com o coração conformado pelo inevitável, me tornei um bibelô.
Passei anos dentro na caixa. E à medida que a menina crescia e envelhecia eu me tornava também envelhecido.
Passado tantos anos, a mãe me entregou para a menina que se transformou em mulher.
A dona dos pezinhos que um dia eu calcei, emoldurou-me e colocou-me juntinho dela numa parede de seu quarto.
Hoje, não acompanho seus passos, mas velo pelos seus sonhos garantindo que ela não perca seu jeito de menina.
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