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Ao ouvir outras pessoas sobre suas alegrias, angústias e dúvidas quis compartilhar minhas impressões sobre esses momentos que vivencio no desejo de ser útil.

Ao lê-las, comente-as. Deixe sua ideia, sua impressão.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um dia da caça, outro do caçador.

O pobre rapaz, separado há uns cinco anos, confessou estar cansado da solidão. Não quer esperar muito tempo mais. Quer ter uma nova esposa. A velha, nem morto e nem em outra vida, apesar das ameaças que reinam sobre ele em certas vaticinações.
Bom, o único jeito foi apelar para um novo modo de conhecer pessoas. Antigamente, no tradicional "footing" , os namoros  assim eram encaminhados. Hoje, basta um moderno instrumento de comunicação, uma tecla "enter" e a conexão está feita.
Dessa maneira o pobre rapaz deu início à sua caça noturna. Com pouca insistência, apareceu na tela de seu netbook uma figura agradável, na mesma condição, querendo apenas uma noite aquecida e em boa companhia. Nada mais. Ele também achou ter encontrado a oportunidade de aquecer mais que o seu corpo, o seu espírito. 
O problema é que nessa situação não existia uma caça e sim dois caçadores. Os dois iludidos de que nesse encontro um se tornaria a presa do outro.
Apreciaram as fotos expostas de ambos e concordaram que seria apenas um momento. Dia e hora combinados na casa dela, o rapaz foi curioso e certo de sua posição.
Ao chegar na esquina pensou numa forma de se prevenir para não entrar numa roubada. Ligou de seu celular para a moça dizendo que ela podia ir para a varanda esperar por ele. Esse truque o beneficiaria a ver de longe se a figura correspondia à foto. Mas truques bons e eficientes são para mágicos de carteirinha. A casa da moça era exatamente na esquina em que ele estava estacionado. Logo, pois, ela o viu. Foi até seu carro sem que ele percebesse e deu alguns toques na janela intimando-o a entrar.
_ Olhe, você vai entrar e se comportar, bem, não é?  Acho que nesse primeiro encontro podemos assistir um pouco de TV e conversarmos.
Ele, assustado, tanto pelo toque repentino quanto pela aparência, que aliás não condizia com a da foto, não teve outra alternativa a não ser entrar e ir para o matadouro. Ele agora era a presa.
Pobre rapaz! Levado para o covil aparamentado convenientemente para o abatedouro, com ar condicionado, almofadas fofas e uma televisão para disfarçar o nervosismo constrangedor, foi iniciado no próprio sacrifício.
_ Apague a luz pelo menos, por favor. Pediu como se ainda tivesse algum poder de barganha.
Sobre os lençois macios a caçadora se entreteve com sua presa entre suas pernas entrelaçando-o sobre seu abdomen farto. Inutilmente ele tentou fugir do local, mas um longo e robusto braço o cercou retendo-o madrugada adentro.
Não conseguia parar de pensar nesse fiasco enquanto a moça dormia e roncava alto.
_ O que vim fazer mesmo aqui? Essa pergunta martelava sua cabeça e seu orgulho ferido de macho dominado.
O dia foi chegando, ele abatido e enfraquecido pela luta travada durante a noite, apelou pela sua liberdade.
A moça, concordou e o libertou, triste, por não concretizar seu último desejo. Dormir de conchinha. Mais essa e seria a morte do rapaz.
Assim, a aventura de caça findava deixando um enorme vazio nele.
Contudo, não era esse fracasso que o desanimaria de continuar em sua busca pelo par permanente. O surpreendente seria ele desistir negando sua coragem de caçador que por uma noite, infelizmente para ele, foi caça.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Meus cabelos brancos

Já não me importo com o que você vai dizer. Se estou envelhecida ou se sou descuidada. Meus cabelos brancos estão aí para todos verem. O tempo passou, é verdade. No entanto, eles ainda se agitam ao menor soprar do vento.
Cada fio branco que surge são luzes que alumio a minha vida. Foram anos pensando, fazendo dar certo, resolvendo problemas, facilitando para uns e outros, noites mal dormidas, mas com certeza muitas alegrias por vitórias alcançadas.
Por sorte, o branco de meus cabelos aceitam cores. Eu posso brincar com elas em minha cabeça. Posso tentar ser diferente a cada nova empreitada da vida. Vermelho para os momentos mais arrojados, marrom para os momentos de maior decisão e chocolate... Bem, chocolate para os momentos de muito deleite.
Mas apesar da insistência mês a mês, eles ainda continuam lá, teimando em aparecer tão logo as cores desbotam, revelando os meus anos.
Ao seu lado uma ruga aqui outra ali. Juntos formam caminhos trilhados em minha vida, ao contrário do que alguns possam supor ser o final da linha.
Queria envelhecer assim, tal como meus cabelos brancos. Iluminando cada vez mais. Refletindo o sol diante do olhar do outro.
Meus cabelos brancos são mais fortes e resistem mais ao tempo do que os negros. Não me deixam criar ilusões de que sou eterna nem imortal. Me chamam a atenção para o meu olhar. Ao vê-los refletidos no espelho me despertam para mim mesma quando estou a ponto de me levar pelas facilidades e torpezas da vida.
Não terei vergonha mais deles. São fios com que teci minhas histórias e estão aí para quem quiser sabê-las.
Aprendi que nenhum disfarce que eu tente utilizar para escondê-los é eficiente. Seria como esconder o que sou e o que fui.
Assim, se me vir novamente com os fios brancos à mostra, tenha admiração por mim. Você está diante de alguém que viveu muito e muito bem.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A vida sobre rodas e sapatos

Na realidade, todo escritor, ao contar histórias alheias, conta um pouquinho de si. As histórias dos outros sempre me fascinam e aguçam todos os meus sentidos. Quero beber a história, cheirar os sentimentos, ver a alma de quem a conta e imaginar a ação.

Com esse desejo e estado de espírito, marquei de me encontrar com Seu Luciano, sapateiro por profissão, numa tarde dessas.
E começamos a contar nossa história...
“Eu montava na minha bicicleta e rumava para a casa dos clientes para entregar os sapatos ou buscá-los. Embora eu morasse no Aeroporto [zona sul de São Paulo] e trabalhasse na Lapa [zona oeste]. Meu mestre, Eduardo, um homem bom, deficiente, ia me ensinando a profissão.”
Um menino de 14 anos correndo as ruas. É só um menino em seu trabalho. O caminho não lhe parece árduo. Em cima da bicicleta, ele é o mestre. Está exercendo sua profissão. É dono de sua vida, mesmo que principiante.
Assim Luciano-menino começou na profissão de sapateiro. Consequência de uma sucessão de laços de amizade entrelaçados pelas ruas de São Paulo.
E houve algum momento difícil, Seu Luciano? Ele recorda que a única dificuldade na vida foi a relação com o pai. Mineiro, militar, não se preocupou em dar segurança para a família no futuro. Mas não deixou faltar nada naquele presente.
A profissão de sapateiro foi coração. A vida lhe respondeu com oportunidades, como fruto de sua “moral” e persistência. Em sua conversa, faz renascer o “tempo antigo”. Quando a palavra de um homem era tudo. E só se vencia se tivesse muita, muita dedicação. Palavras, aliás, pronunciadas com ênfase, de convicção.
Num gesto de generosidade e desprendimento, herdou, de antigo empregador, sua primeira sapataria. Com 21 anos, jovem e cheio de energia, agarrou a oportunidade e se fez de fato sapateiro.
Casado, pai de duas filhas, foi nos fundos da loja que costurou o couro de pés elegantes e caros da cidade. Usava o couro cromo. “Coisa chique e boa.”
Nunca pensou em ser outra coisa. Seu tesouro se resume a sua blaqueadeira Singer, que costurou tantos solados. O trabalho fica melhor, completo, explica.
O tempo passou com o andar às vezes rápido, às vezes lento de agulha. Já não quer mais ficar atrás do balcão, ao pé de uma máquina de costurar sapatos. Agora, constrói outro caminho. Está bem calçado. Este caminho o liga de São Paulo ao litoral.
Encerra sua vida profissional de forma parecida à que iniciou, sobre rodas. À sua espera, uma motocicleta. De posse do capacete, se entregará ao mesmo vento que um dia o levou a ser sapateiro.
Mas, agora, apenas Luciano.
Na realidade, todo escritor ao contar histórias alheias conta um pouquinho de si mesmo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pedrinhas de brilhante

...Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar...
Quantas vezes cantei essa música em minha infância?
Alguns de nós vamos construindo nossos caminhos colocando pedrinhas, algumas de brilhante, outras não, para os nossos amores caminharem sobre elas. Como se fossem um tapete reluzente e que só está ali para o outro.
Não imaginamos que muitas vezes estamos caminhando sozinhos, e que de fato este caminho é só nosso. E então, por que enfeitá-lo para o outro?
Qual a nossa crença nessa história? Eu, por acaso, não enfeitaria o meu próprio caminho por achar que de terra vai bem, mesmo?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quem foi Samuel?


Foto: Eduardo Dias Gontijo
_ Como você se chama?
_ Samuel.
_ Quantos anos você tem, Samuel?
_ 10, dona.
_ Como você gosta de brincar?
_ Tomando conta de carros e pedindo uns troco por aí.
_ Você mora aonde?
_ Hummm... Em qualquer lugar.
_ Não tem família? Pai, mãe e irmãos?
_ Acho que tenho. Não sei aonde eles estão.
_ Quem cuida de você?
_ Ninguém. Sou eu e meus amigos da rua do centro.
_ E pra comer, como você faz?
_ Peço uns trocado e compro pão. Mas tem gente que me dá o resto de comida. Tem até gente que paga um sanduiche pra mim de vez em quando.
_ O que você quer ganhar de presente?
_ Uma família só pra mim e uma casa pra eu morar.
Samuel dois dias depois dessa conversa foi encontrado morto no centro da cidade. Ninguém sabia seu nome. Ele nunca existiu para outras pessoas além de mim e de seus companheiros de rua.
Tinha o céu para cobrir-lhe na escuridão e as ruas por trilhas de aventuras diárias. Alimentava-se de pequenos gestos de solidariedade e às vezes de descartes. Não tinha família e cedo aprendeu a viver em solidão e desamparo.
Seu rostinho conhecia apenas o medo estampado nas faces dos pedestres assustados e temerosos pela aproximação dos "pivetes".
Como ele, tantos outros meninos andam conosco nas mesmas ruas em que andamos.
Rostinhos tristes e mal nutridos a espera de uma casa para os acolher.

O céu do meu azul

09h00 - 09/02/11 - O céu do meu espaço
Ao acordar, meu corpo e mente ainda preguiçosos, não por costume, mas por uma noite mal dormida, de sonhos confusos e incertezas vindouras, pus-me languidamente na rede da varanda de meu apartamento, e me moldando a ela deixei-me ficar.
Embora o dia anterior tivesse sido de muito movimento, projetos alavancados, novos contatos realizados, histórias alheias contadas, de olhos fechados não pensei em nada. Nem rememorei sonhos e fatos passados. Apenas deixei-me embalar.
E à medida que meu corpo se recolhia e era acolhido pela rede, sentia-me um sabugo de milho, verde, envolto pela palha.
Mas meus olhos se abriram e, de repente, depararam com o céu de um azul profundo, que atingiu minha memória visual e fez conexões remotas lá da infância.
Me vi sentada em minha carteira escolar, sobre ela uma folha em branco esperando receber as cores dos meus sonhos e, diante de mim, a maior e a mais completa caixa de lápis de cor. Era um orgulho a aquisição de tal tesouro escolar.
Mas minhas mãos, ainda pequenas, sempre escolhiam as mesmas cores, azul profundo, que eu chamava de azul-celeste forte, e o vermelho bonina, que servia para fazer as flores e a fita do cabelo da menina.
Portanto, não poderia desenhar outra coisa que não fosse o céu. E o lápis ia, ora deslizando suavemente, ora bruscamente, querendo preencher todo o espaço superior da folha com esse céu que só eu via em mim. Ele era só meu e assim eu o entendia e determinava a sua cor.
Agora, essas duas emoções diante de mim, estar sob o céu de azul forte e envolta pelas minhas lembranças infantis que foram, simplesmente, despertadas por uma cor.
Resolvo ficar por mais um tempo aqui, na rede da minha imaginação, mergulhando no céu do meu lápis de cor.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Giramundo

Ei mundo, você está girando depressa! Nada contra isso, mas tá difícil de te acompanhar. Sai e entra cada coisa. Tudo pra me deixar maluca. Quando dei por mim, tudo já saiu do lugar. E quem é esse aí? E o que é isso, meu caro? Nem avisa e já chegou?
Peraí, este lugar é meu?
Oxalá eu possa me apropriar do que é meu!
Ops, mas quem disse que alguém é dono de alguma coisa?
Nananinanão!!!
É pra ficar esperto mesmo! É isso aí, as coisas mudam, trocam de lugar.
O ciclo da vida por vezes é curto. Nos dias de hoje todos têm pressa de fazer algo e, consequentemente, de entender algo.
Não pude deixar de perceber que a cabeça de muitas pessoas está um pouco desconectada do seu corpo. Também pudera, novidades o tempo todo, nos jornais, na televisão, no vizinho ou no coração.
Guerra aqui, guerra acolá, e as pessoas por mais que criem ferramentas de comunicação se entendem cada vez menos.
Será que transferiram para os equipamentos de ponta toda comunicação?
E o tete à tete? E o olho no olho? E o cara na cara? Aonde estamos, meu Deus? Já estamos na era cibernética e nem percebemos?
Recentemente foi publicado num jornal de São Paulo uma matéria sobre a implantação de ensino à distância para formação de professores. Até na educação? Choquei-me. Diria informação, apenas. Se perde com isso o contato pessoal que gera conflitos e que nos incomoda e por isso mesmo nos faz crescer como seres humanos.
Eu mesma, aqui, transmitindo esse trololó todo por um meio virtual.
Reparem, hoje em dia só vamos nos encontrar numa praça pública para protestarmos por alguma coisa que foi antecipadamente divulgada pela internet. Depois de que já foi mastigada e decidida por poucas pessoas. Antes se arquitetavam protestos com a presença de pessoas em recintos fechados ou até em bares. Mas ninguém tem tempo pra nada, não é mesmo? Enfim, é um movimento massificante e pseudoparticipativo.
Não é para se preocupar com essa tsunami?
Vamos mexer os traseiros, minha gente, saírem de seus confortáveis lugares e tratarem de ser simplesmente GENTE.
E corra que o mundo tá batendo em retirada!!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em algum lugar do passado

Foto: Ari Buccioni

Os objetos já estão escassos nas prateleiras.
Cada espaço conta uma história que já não é vivida pelo seu dono.
Não existem testemunhas desse vazio. Vazio que aconteceu após tantos anos de convivência e de insistência.
As paredes estão impregnadas de emoção e de suores trabalhados.
Houve um tempo em que o burburinho dos entrantes era a vida que pulsava. Nessa relação de intercâmbios o tempo ia se esvaziando.
E assim foi ficando displicente como o tempo é para os homens. As rugas não só estavam em seu rosto, mas nas tintas desbotadas, madeira lascada, papeis amarfanhados e pó pelos cantos.
Não foi em um único momento que tudo esvaziou-se. O tudo foi se perdendo no meio das partes e os dias se tornaram anos.
O trabalho não foi em vão. Em vão foram as ilusões que tudo se resistiria ao tempo.
As coisas se mostraram simplesmente coisas. Seres inanimados mas carregados de tensão.
Hoje ele está lá, sentado olhando para a rua, esperando o tempo passar e entrar.
Quem sabe tudo ele levará?

Hoje é sexta-feira

Minha amiga Rose,
As sextas-feiras de minha vida mudaram depois que eu a conheci. Nunca mais foram as mesmas.
Quando estou acordando vem uma voz distante e grita entusiasticamente: Hoje é sexta-feira!!!
E haja criatividade sua para comunicar a todos esse dia! Não sei se porque já está de saco cheio da semana ou porque você irá fazer algo muito especial. De fato para todos os brasileiros, sexta-feira é um dia pra lá de especial. Cerveja com os amigos, a deixa para ir dormir mais tarde, fazer um programinha legal a dois, sair mais cedo do trabalho e outras coisas que muita gente vai planejando ao longo da semana de trabalho.Para quem não sabe os povos pagãos antigos reverenciavam seus deuses dedicando este dia ao astro Vênus o que originou outras denominações, em espanhol viernes e no italiano venerdi, ou seja, dia de Vênus.

Esse dia tão esperado também possui uma certa aura surpesticiosa, principalmente quando vem acompanhado do dia 13. Ele também é dedicado a alguns dias especiais no calendário católico, sexta-feira santa, da paixão. Ou simplesmente é o último dia de trabalho para muita gente.
O pior é quando todos os dias se parecem sexta-feira. Aí, nem você minha amiga, com todo entusiasmo irá contagiar.
Veja meu caso, eu trabalho mais nos finais de semana, viagens com grupos artísticos, teatros e produções. Minhas sextas-feiras, na realidade, são os domingos. Segunda posso dormir até mais tarde um pouco. Posso até programar com meu marido um cineminha no fim de tarde. Tudo é uma questão de se adaptar.
De qualquer forma, não quero deixar de participar dessa onda de alegria que vem de você uma vez por semana.
É bom sentirmos um fluxo de energias positivas nos animando, não importando de onde vem ou porque veio.
O importante é deixarmos nesse mundo nossa marca. Claro, sempre pelas coisas boas que fazemos e pensamos.
Como você tem estilo, minha amiga, continue com toda criatividade e alegria a propagar esse dia tão esperado por muitos.
Ah, Rose, aliás, HOOOOOOOJE é SEXTA-FEIRA!!!!!!!!!!!!!!! UHHHHUUUU....