Na realidade, todo escritor, ao contar histórias alheias, conta um pouquinho de si. As histórias dos outros sempre me fascinam e aguçam todos os meus sentidos. Quero beber a história, cheirar os sentimentos, ver a alma de quem a conta e imaginar a ação.
Com esse desejo e estado de espírito, marquei de me encontrar com Seu Luciano, sapateiro por profissão, numa tarde dessas.
E começamos a contar nossa história...
“Eu montava na minha bicicleta e rumava para a casa dos clientes para entregar os sapatos ou buscá-los. Embora eu morasse no Aeroporto [zona sul de São Paulo] e trabalhasse na Lapa [zona oeste]. Meu mestre, Eduardo, um homem bom, deficiente, ia me ensinando a profissão.”
Um menino de 14 anos correndo as ruas. É só um menino em seu trabalho. O caminho não lhe parece árduo. Em cima da bicicleta, ele é o mestre. Está exercendo sua profissão. É dono de sua vida, mesmo que principiante.
Assim Luciano-menino começou na profissão de sapateiro. Consequência de uma sucessão de laços de amizade entrelaçados pelas ruas de São Paulo.
E houve algum momento difícil, Seu Luciano? Ele recorda que a única dificuldade na vida foi a relação com o pai. Mineiro, militar, não se preocupou em dar segurança para a família no futuro. Mas não deixou faltar nada naquele presente.
A profissão de sapateiro foi coração. A vida lhe respondeu com oportunidades, como fruto de sua “moral” e persistência. Em sua conversa, faz renascer o “tempo antigo”. Quando a palavra de um homem era tudo. E só se vencia se tivesse muita, muita dedicação. Palavras, aliás, pronunciadas com ênfase, de convicção.
Num gesto de generosidade e desprendimento, herdou, de antigo empregador, sua primeira sapataria. Com 21 anos, jovem e cheio de energia, agarrou a oportunidade e se fez de fato sapateiro.
Casado, pai de duas filhas, foi nos fundos da loja que costurou o couro de pés elegantes e caros da cidade. Usava o couro cromo. “Coisa chique e boa.”
Nunca pensou em ser outra coisa. Seu tesouro se resume a sua blaqueadeira Singer, que costurou tantos solados. O trabalho fica melhor, completo, explica.
O tempo passou com o andar às vezes rápido, às vezes lento de agulha. Já não quer mais ficar atrás do balcão, ao pé de uma máquina de costurar sapatos. Agora, constrói outro caminho. Está bem calçado. Este caminho o liga de São Paulo ao litoral.
Encerra sua vida profissional de forma parecida à que iniciou, sobre rodas. À sua espera, uma motocicleta. De posse do capacete, se entregará ao mesmo vento que um dia o levou a ser sapateiro.
Mas, agora, apenas Luciano.
Com esse desejo e estado de espírito, marquei de me encontrar com Seu Luciano, sapateiro por profissão, numa tarde dessas.
E começamos a contar nossa história...
“Eu montava na minha bicicleta e rumava para a casa dos clientes para entregar os sapatos ou buscá-los. Embora eu morasse no Aeroporto [zona sul de São Paulo] e trabalhasse na Lapa [zona oeste]. Meu mestre, Eduardo, um homem bom, deficiente, ia me ensinando a profissão.”
Um menino de 14 anos correndo as ruas. É só um menino em seu trabalho. O caminho não lhe parece árduo. Em cima da bicicleta, ele é o mestre. Está exercendo sua profissão. É dono de sua vida, mesmo que principiante.
Assim Luciano-menino começou na profissão de sapateiro. Consequência de uma sucessão de laços de amizade entrelaçados pelas ruas de São Paulo.
E houve algum momento difícil, Seu Luciano? Ele recorda que a única dificuldade na vida foi a relação com o pai. Mineiro, militar, não se preocupou em dar segurança para a família no futuro. Mas não deixou faltar nada naquele presente.
A profissão de sapateiro foi coração. A vida lhe respondeu com oportunidades, como fruto de sua “moral” e persistência. Em sua conversa, faz renascer o “tempo antigo”. Quando a palavra de um homem era tudo. E só se vencia se tivesse muita, muita dedicação. Palavras, aliás, pronunciadas com ênfase, de convicção.
Num gesto de generosidade e desprendimento, herdou, de antigo empregador, sua primeira sapataria. Com 21 anos, jovem e cheio de energia, agarrou a oportunidade e se fez de fato sapateiro.
Casado, pai de duas filhas, foi nos fundos da loja que costurou o couro de pés elegantes e caros da cidade. Usava o couro cromo. “Coisa chique e boa.”
Nunca pensou em ser outra coisa. Seu tesouro se resume a sua blaqueadeira Singer, que costurou tantos solados. O trabalho fica melhor, completo, explica.
O tempo passou com o andar às vezes rápido, às vezes lento de agulha. Já não quer mais ficar atrás do balcão, ao pé de uma máquina de costurar sapatos. Agora, constrói outro caminho. Está bem calçado. Este caminho o liga de São Paulo ao litoral.
Encerra sua vida profissional de forma parecida à que iniciou, sobre rodas. À sua espera, uma motocicleta. De posse do capacete, se entregará ao mesmo vento que um dia o levou a ser sapateiro.
Mas, agora, apenas Luciano.
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