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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pessoas do meu tempo e de outros tempos

Andei visitando o passado rapidamente esses dias.

Lembrei-me de pessoas muito queridas e que tiveram uma importância enorme em minha vida. Foram pessoas que com seu conhecimento sólido e genuíno à cerca da vida foram me ajudando a construir o meu mundo.

Peça por peça foi se encaixando em minha sede de saber para poder viver o mais dignamente possível na vida. Foram vacinas para os dias de adversidades e desânimo que por ventura pudessem ocorrer.

E claro que ocorreram. Mas as palavras e exemplos de vida dessas pessoas permaneceram em minha memória. Mais do que palavras e exemplos foi o respeito e amor com que dedicaram à minha infância.

Cedo quis romper com as incertezas do ambiente em que vivia por não acreditar e não achar o suficiente o que me era passado. Essas pessoas foram importantes com seus pontos de vista e valores ao despertarem em mim a reflexão sobre o que eu buscava na vida.

Aqui deixo registrado o que cada uma me proporcionou, embora não precisasse, pois guardo em meu coração o rosto e a gratidão por cada uma.

Minha vó Aracy e Filinha, avó materna e tia-avó, me respeitaram como criança, trataram-me com incansável dedicação. Jamais ouvi um não de suas bocas. Jamais um desagrado em estarem comigo. Inventaram brincadeiras para distrairem-me, construiram pipas que rasgavam os céus e fizeram todos os mimos possíveis. Desde o delicioso cafuné por horas a fio ao prato mais gostoso do mundo: bife com banana da terra frita, arroz e feijão. Ensinaram-me a doação incondicional. Muito dessa dedicação transportei para os cuidados com meus filhos.

Minha avó Aurita, mulher à frente de seu tempo, ensinou-me a palavra escrita. Hoje tento trilhar esse caminho por ela percorrido. Jornalista, cronista, 11 filhos, tinha o seu próprio espaço, um escritório recheado de livros que eu devorava, quietinha, deitada no sofá, enquanto ela trabalhava no birô.

Minha prima Lúcia. Lúcia é prima de segundo grau por parte de minha mãe. Lúcia foi e é minha irmã querida. A afinidade é tanta que nossa relação passa por todos os elos de ligação. Mãe, prima, irmã. Sempre presente em vida e em sonho. Seu coração pressente algum acontecimento, triste ou feliz em minha vida. Estamos ligadas pelo coração. Ensinou declamar poesia, a ler muitos e muitos livros e a entender a difícil fase da adolescência. Mas o que mais marcou-me foi o fato dela me incentivar a brincar comigo mesma. Em meus aniversários ela sempre criava uma brincadeira, fosse me fantasiando com um laço de fita na cabeça ou fazendo uma dança engraçada no meio dos convidados. E eu ia assim meio que palhaça. São as melhores recordações de minhas festinhas. E o cinema quando eu rejeitava a ideia de brincar de carnaval! Nossa sessão de cinema nessa época era garantida. Ela me consolava assim, me fazendo rir. Me chamando de Bambina.

Dona Maria do Domingos, assim a chamávamos. Seu Domingos era seu marido, eletricista da família. Dona Maria, uma senhora negra, esbelta, fina, foi criada na casa do Presidente Artur Bernardes quando criança. Ficava em nossa casa para tomar conta de mim e de meus irmãos menores quando minha mãe e pai viajavam. Dela aprendi a me comportar à mesa, a não falar nomes feios e muito menos usar gírias. Deixou sua marca me contando por horas a fio histórias sobre santos e santas católicos. Jamais foi indelicada conosco mesmo quando aprontávamos. Sabia ser dura e carinhosa ao mesmo tempo.

Irene foi nossa empregada, babá e amiga. Me lembro dela aos doze anos quando minha mãe no hospital tendo mais um filho coincidiu de eu ficar "mocinha". Menstruei e como minha mãe não se encontrava lá estava Irene, carinhosa, explicando-me o "fenômeno" natural da vida de uma mulher.

Claro, minha mãe querida, guerreira e muito, mas muito ela mesma. Ela ainda tem me ensinado a ser e a não ser como ela. Ela me lembra o tempo todo que pai e mãe servem de exemplos tanto para as coisas negativas quanto positivas. As negativas jamais deveremos copiar e as positivas fazermos melhor ainda.

Meu pai, figura contraditória no amar ou deixar passar. Se amamos tem que ser amor sem reservas. Ele marca as nossas vidas nos ensinando que se não sabemos, inventemos, pois.

Tenho ainda em meu coração um "pai" adotado pela minha alma por direito conquistado. Tio Augusto com suas palavras enunciadas com tanto amor e sabedoria até hoje me ajuda a tecer a colcha de retalhos de minhas histórias. Ele é o meu anjo que um dia ajudou-me a  perceber-me gente. Gente de direitos e de deveres. O caminho para a liberdade.

Essas foram e são ainda as pessoas que fazem minha vida mais rica. Depois dessas são meus filhos que me ensinam todos os dias o respeito às diferenças de cada um e a entender que o amor entre mães e filhos é muito mais do que instintivo. É cultivado diariamente.

E por fim, meu marido, um homem simples e sábio. Humano e extremamente generoso. Tem sido meu companheiro de todas as horas e tem sabido ouvir meu coração. Sem palavras.

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