Quando eu era pequena, costumava ficar calada em meu canto.
Subia na mangueira que tinha ao lado da casa no quintal.
O quintal parecia muito grande para mim. Um universo a ser descoberto.
Mas, pequeno era meu tamanho.
Eu adorava sentar no degrau da cozinha e olhar até o fundo do quintal.
Via a mexeriqueira, o limoeiro, a goiabeira e até a casinha do nosso cachorro.
Tudo era tão grande que meu coração ficava bem pequenininho.
Fui crescendo e tomando conta daquele espaço. Já não era mais a mesma.
E nem o quintal era igual.
Já não tínhamos as árvores frutíferas. Estávamos preparando o lugar da piscina.
Até que um dia esta piscina tomou conta do quintal. E também da minha vida.
Fomos dessa casa.
Ela ruiu em meus sonhos.
Vasculhei o que havia deixado pra trás, mas os sonhos sempre insistem em mostrar o que insistimos em não ver.
Vi uma casa desarrumada.
Solidão, porém muita vida.
Agarrei-me ao que lembrava da infância vivida e aprendida.
De sangue e de alma eu vivo intensamente os meus momentos.
A história da casa é o começo do que sou hoje.
Ela é feita de barro.
Eu a semelhança de Deus.
Eu uma chama viva.
Ela paredes vazias.
Eu esperança e alegria.
Ela estática envelhecida.