Eram três meninas engraçadinhas e bonitinhas.
Viviam em uma cidade do interior de Minas. As três tinham apenas onze anos e já queriam namorar.
Na rua em que elas moravam outras meninas também queriam namorar.
Na cidade das meninas outras meninas já namoravam.
A diferença, porém, não era entre as meninas e sim entre os pais das meninas. Alguns pais não deixavam suas filhas namorarem com tão pouca idade. Só restava às meninas o sonho e a fantasia alimentados pelos filmes de amor e romantismo.
Os filmes mais inspiradores assistidos na matinê despertavam nas meninas sonhos que iam se delineando nos corpos de futuras mulheres.
Houve à época um filme que as fizeram viajar no tempo e na condição de simples plebéias. Inspiradas na Imperatriz Sissi sonhavam e encenavam as cenas de idílio romântico. Ai! Quero um amor assim só pra mim. E os vestidos? Vou fazer igual para a festa de meus quinze anos. Todas se transformavam em pequenas Romy Schneider. Quando foi passado no cinema da cidade o filme Love Story que trazia no papel principal Ryan O’Neal e Ali MacGraw, todas em uníssono declaravam que “amar é jamais ter que pedir perdão”, e por um mês seguido a fantasia se transportava para a vida real das três meninas que tinham por um único desejo, ter um amor assim.
Mas sonho e realidade nessa idade caminham juntos, diferentemente quando nos encontramos adultos e que muitas vezes abandonamos os nossos por acreditarmos que sonhos não enchem a boca de ninguém.
Por essa época o namorado ainda não existia para nenhuma delas. Até que um dia chegou um menino um tantinho mais velho vindo da rua de baixo. Ele não era tão bonito, além de ter um apelido horroroso. Mas possuía uma cabeleira farta, comprida aos ombros que em um simples gesto com as mãos puxando-os para trás fazia com que elas suspirassem.
E agora estava dada a largada para a grande disputa. Como o menino, ainda tão novo conseguiria equacionar esse problema? Era um para três.
Os hormônios femininos em borbulhas e os hormônios masculinos sobressaltados.
Por um bom tempo todas ficaram apenas nos suspiros e desejos contidos. Mas de partida alguns pontos ficaram definidos implícita e explicitamente.
Não haveria rompimentos entre elas por um menino apenas. Contudo, alguns pontos revelaram algumas vantagens e desvantagens.
Alguns pais permitiram esse ensaio da realidade. Esse ponto de vantagem para uma significava desvantagem para outra que compensava com atributos generosos que enchiam os olhos do menino.
Como só no reino da fantasia isso pode acontecer, sem acertos verbais ou acordos pré-namoricos, as três começaram a namorar o menino ao mesmo tempo.
O menino soube levar, mesmo com pouca idade, tal acerto entre as meninas. Estrategicamente, e isso não necessitou de estudo e conhecimento tático, o cinema continuou sendo palco das fantasias para os encontros.
As três meninas sentavam separadas por cinco fileiras de cadeiras umas das outras.
Uma no início da sala que ficava mais ao alto e podia divisar as outras. A segunda no meio da sala e a terceira rente a tela de projeção.
O menino tinha lá também sua estratégia de namoro. Os filmes tinham duração aproximadamente de uma hora e meia. Portanto, ele permanecia sentado com cada uma por meia hora. E com cada uma um nível diferente de aproximação. A menina do início da sala apenas permitia o toque nas mãos. Permaneciam o tempo todo assim. Mal se olhavam. Apenas ao toque suave e inseguro nas mãos era capaz de provocar a maior das sensações de desejo na menina e no menino.
Com a menina do meio já valia um beijo na boca. E com a terceira, uma mão boba aqui outra ali.
Mas como em toda história de príncipes e princesas sempre aparece uma bruxa ou bruxo malvados para adiar a felicidade, o pai de uma delas assumiu o controle da situação que lhe chegara aos ouvidos. Pôs fim ao namoro da menina que apenas sabia segurar as mãos. Logo ela, coitada, que ainda não havia experimentado outras delícias do namoro.
O menino foi prejudicado na sua estratégia. Instalou-se o desequilíbrio nas relações. Com três ele estava bem passado.
Não houve jeito. A menina chorou, invejou as outras, fantasiou, mas nada conseguiu. O pai estava irredutível. Filha dele só namorava um bom tempo mais tarde.
Mas o menino acabou sofrendo uma segunda perda. Só lhe restou uma namoradinha. Desequilíbrio total. Essa situação o cegou completamente, deixando-o às escuras. Sentiu que tinha que se contentar mesmo de forma incompleta. Resultou na perda da capacidade de julgamento do que era bom de verdade.
Dois anos depois, um pouco mais velhos os quatro, ainda adolescentes, a menina que se viu forçada a terminar o namoro estava de mudança da cidade. E não podia conceber a ideia de ir para outra cidade sem ao menos ter experimentado o beijo. Não. Não poderia partir assim. Pensou em uma maneira de conseguir isso. Arrumar um namorado em pouco tempo não seria possível. O jeito era ir atrás de uma solução rápida e conhecida. Sem maldade, foi até a amiga que ainda namorava o menino e pediu-lhe emprestado o namorado para dar apenas um único beijo. A amiga aceitou, embora desconfiada.
Os dois, cientes do arranjo momentâneo, saíram de mãos dadas da casa da amiga, caminharam pela rua mal iluminada e num gesto meio desajeitado se beijaram.
O príncipe em pouco tempo virou um sapo, mas a menina se tornou uma moça.
Depois ela partiu.
Nossa... ETA 3 meninas !!! Esqueceu do filme " O ultimo Verão " cine Pio XII .
ResponderExcluirNossa foi uma enchente de faces molhadas pela rua a fora. Oh! filme cruel ... 3 meninas mais sofridas de amor que conheci
Gostei . Parece q. estou vendo tudo de novo