A jovem senhora descia as escadas no metrô da Sé com um pequeno cobertor verde em um braço e no outro uma sacola.
Seu rosto estava vermelho e parecia chorar. Descia com um olhar perdido. Se agarrava ao cobertozinho verde como alguem que se prende a uma réstia de esperança tecida num grande cobertor. Fiquei a observar-lhe.
Um passo apressado, mãos trêmulas, olhar de quem busca por algo e alma desesperada.
Vinha em minha direção e a de dois vigilantes. Começou a chorar. Falava mansamente, se controlando.
A esperança ainda não a havia deixado. Apertava contra o peito o cobertorzinho verde mais ainda.
A esperança ainda não a havia deixado. Apertava contra o peito o cobertorzinho verde mais ainda.
Enquanto tentava articular as palavras, pausadamente, seu olhar se perdia no espaço.
Não me contive. Me aproximei para ouvi-la melhor. Por minha cabeça passou outras histórias que muitas vezes escutamos por aí. Sequestros, filho que se perde da mãe, pai ou desconhecido que leva o filho para longe... Sabe-se lá quantas outras coisas ruins podem acontecer com uma criança!
Meu coração se enterneceu ao vê-la chorar. Chorei com ela e entendi que era uma mãe aflita por seu filho e por si mesma.
"Vocês viram um homem com casaco cinza, uma criança no colo, com roupinha azul?"
"Vocês viram um homem com casaco cinza, uma criança no colo, com roupinha azul?"
Eu havia visto logo que desci do metrô no andar de cima. E mesmo que não tivesse visto diria que eu o vi. Não seria errado alimentar sua esperança. Não pensei duas vezes para lhe responder.
Às vezes deixamos de ajudar esperando que alguém tome a frente e resolva o problema. Outras vezes porque nos intimidamos. Oras, bolas!! Ou porque, de fato, somos egoístas mesmo.
"Vi sim. Ele estava em frente à plataforma do metrô vindo de Santa Cecília."
Os vigilantes sugeriram ela ir anunciar no alto falante. O que ela disse que já havia feito, mas em vão. Explicou que não conseguiu descer do metrô à tempo. Seguiu com ele. O marido desceu e assim eles se perderam um do outro. Voltou em busca do que havia perdido.
Em pouco tempo a procurar ela se perdeu de si mesma. Era medo e aflição.
Ela se agarrava ao cobertozinho verde, como alguém que se agarra à esperança. Subiu as escadas deixando-se ser guiada pelo vigilante.
Eu não pude ver o reencontro com seu marido e filho. Não pude assistir ao fim de sua agonia.
Terminei por seguir meu caminho pensando naquele pedacinho verde de esperança a que ela se agarrava.
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