O que você lê aqui

Ao ouvir outras pessoas sobre suas alegrias, angústias e dúvidas quis compartilhar minhas impressões sobre esses momentos que vivencio no desejo de ser útil.

Ao lê-las, comente-as. Deixe sua ideia, sua impressão.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Universos paralelos

Como sempre numa roda de bate papo com mulheres e homens é inevitável a abordagem da questão denominada universos paralelos, ou simplesmente homens e mulheres, ou ainda seres de planetas diferentes. A verdade é que somos tão diferentes que nos assemelhamos. Sempre há um ponto de convergência entre esses dois espécimes da natureza. Contudo, muitos por afirmação precisam apontar mais os pontos divergentes e eternizar essa guerra dos sexos. 
Não deixa de ser prazeroso ouvir toda essa problemática quando numa mesa de bar temos a oportunidade de reunirmos os dois.
Ontem, tudo muito pacificamente, numa mesa de bar,  foi levantada esta questão. A convergência é que todos, tanto um quanto o outro, deseja ter alguém para compartilhar os momentos, bons ou ruins. Observo, não é a primeira vez, o que menos é abordado é a capacidade de tolerar e compreender as disferenças com o propósito de manter essa união.
Muitas opiniões são colocadas na mesa. Homens dizem que mulheres querem se apossar de sua masculinidade, tomando a frente seja no trabalho ou no comando da dinâmica do casal. As mulheres enfatizam que os homens são muito complicados, que não sabem lidar com situações que envolvam o  emocional e ao se juntarem a elas se tornam um "encosto".
Lembro-me de um livro de Miguel de Sousa Tavares que li há um certo tempo, Nunca te deixarei morrer, David Crockett, em que ele enfoca a necessidade de vivenciarmos mais os momentos sem criarmos a ilusão da felicidade ou tristeza encarceradas num horizonte fechado, de rupturas, dicotomizadas. Mais interessante, ainda, constata que é um processo longo e difícil, como sempre o são as aproximações entre duas pessoas habituadas a estarem sozinhas.
Em que momento tudo isso virou uma bagunça? O que se tornou complicado? Cada um na sua ou os dois juntos se complicaram? Será que essas questões sempre tiveram presentes no universo de ambos?
Complicada eu ou você?
Transcender à nossa condição de mulher ou homem para compreendermos o universo HUMANO e, incluindo o espiritual, talvez seja o caminho para a tal convergência.
Pois bem, após um breve tempo de trocas de opiniões a conversa foi direcionada para o interesse sobre a minha relação com meu marido. Como nos havíamos conhecido? E sobretudo, sobre os detalhes de caráter mais romântico. Foi neste momento que todos os dois universos se encontraram para idealizarem cada um o seu momento de encontro com o outro. Histórias bem sucedidas ou com passagens idílicas costumam criar a ilusão de ser tudo muito fácil. É como se transportasse o ego angustiado pela solidão para uma área de extrema felicidade e possibilidade de convergência de interesses. E tudo, claro, estaria resolvido.
Enfim, na mesa de bar findou o embate entre homens e mulheres. Todos concordaram que os ditos universos paralelos fazem parte de uma mesma galáxia. São apenas dois planetas, cada qual com sua rotação e translação querendo um lugar ao sol. Não há necessidade de enfrentamentos.
Não querendo ser demasiadamente pretenciosa, tudo se resume a uma simples equação matemática onde o resultado pode ser negativo ou positivo, desde que tenhamos a habilidade para obtermos um resultado satisfatório para ambos. Nenhum valor absoluto, enfim.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Programa em uma noite de primavera

Nem sempre falta de dinheiro é uma desculpa suficiente para não sair e fazer um programa cultural. 
De uns tempos pra cá tenho me empenhado, como nunca, em acessar sites de promoção ou de sorteios de ingressos. Não imaginam quantas oportunidades! Tenho descoberto promoções incríveis. E eu que fiquei bestando tanto tempo, contando dindin e ficando com a cara quadrada pela televisão. Sem muita enrolação de minha parte, atribuo ao fato de que eu mesma boicotava o meu interesse em escarafunchar a internet.
Mas isso acabou! Coloquei meus dedinhos para trabalhar no teclado e lá fui eu atrás dessas promoções. Tenho investido toda minha energia nesse processo de preenchimento de cadastro para abocanhar um ingresso. Um ingresso para um cinema ou para um espetáculo de dança e ainda podendo ser para uma peça.
Bem, ontem fui assistir com meu marido uma peça de teatro por meio desse processo todo.
Se foi interessante? Fora a surpresa de reconhecer o filho de uma amiga como ator da peça que, aliás, foi muito bem, sinceramente, NÃO. Por que será que alguns atores ou mais frequentemente atrizes acham que para colocar toda carga dramática em cena é preciso berrar? Foi isso mesmo. Duas atrizes gritavam durante a encenação. O pior que os gritos não variavam de uma situação para outra. O mesmo para a irritação, para o desespero, e até mesmo para o riso. Obviamente que a cada grito eu apertava meus olhos, pois não tinha como tapar os ouvidos. E nem tínhamos como consultar as horas para diminuir o incômodo da espera pelo final. Para piorar nós estávamos sentados na primeira fila e obviamente ficaria também indelicado esse gesto. E isso não somos.
Passada uma hora e dez minutos a peça chegou ao fim. Finalmente!
Fomos sentar em um barzinho ao lado do teatro para papearmos. O prazer da noite foi recuperado. Conversamos muito. Falamos sobre a vida, sobre o que nos impulsionava a realizarmos mais coisas, nossos sonhos; nossas dificuldades em seguirmos por determinado caminho e pelo prazer de estarmos um com o outro nessa caminhada.
Foi um sentimento reconfortante saber que não estamos sós quando nos abrimos para compartilhar com o outro nossa trajetória, nosso amadurecimento. Que apesar das dificuldades que enfrentamos, normais de toda vida, por estarmos juntos o peso parece mais leve para carregar.
Dividir e somar eis o segredo para uma boa relação. 

sábado, 25 de setembro de 2010

A loucura de cada um

São oito horas da manhã e já estou desperto. O dia mal começou e me vejo irrequieto. Não sei em que momento do dia irei me aquietar.
Já acordo com a alma ansiosa, mexida. Apesar da longa noite bem dormida prevejo um dia fervilhante.
Sinto uma vontade de externar todo esse turbilhão pelas ideias instaladas e desorganizadas em minha mente.
Olho para o criado-mudo em busca de apoio. Procuro meus livros de cabeceira para adentrar as histórias, as viagens de outros. Mas não estão lá. Por um descuido meu, ao limpar este espaço eu os retirei.
Sou tragado pela rotina do meu dia. À medida que as horas vão passando a inquietação vai se tornando mais visível. Nem os vários goles de café são capazes de disfarçar minha ansiedade. Não consigo mais me concentrar em minhas tarefas. Consulto as horas a cada minuto e a cada hora. Tenho sede? Tenho fome? Que falta é essa que me acomete?
Chego em casa à cata de meus livros. Encontro-os no chão ao lado de minha poltrona na sala. Me acomodo nela. Minhas mãos seguram avidamente um livro. Percebo que ele é extensão delas. Respiro aliviado. Já não sinto a pressão em meu peito.
- Doutor, esse vício tem cura?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Primavera está aí


Todo ano esperamos pela primavera ansiosamente.
É verdade que em nossos trópicos as estações do ano não são bem definidas.
Nos causa um pouco de frustração quando comparamos as nossas com as de outros países.
Mas, mesmo assim , ela está presente aqui. Perto de nós para nossos sentidos perceberem e usufruírem da estação mais bonita do ano. Assim é para mim.
Podemos ver uma árvore mais viçosa; o gramado nos canteiros mais vivo; jardins vicejantes nos enchendo os olhos de cores.
Os dias ficam mais bucólicos, a vida diária ganha mais brilho, mais alegria e mais poesia.
Nos sentimos mais próximos de nossa humanidade e nos damos conta o quanto a natureza influencia nosso estado de espírito.
Pude comprovar esse efeito sobre nós no tempo em que vivi em Brasília. Como no inverno o clima é muito seco e a umidade do ar é comparada a de desertos, a paisagem é inóspita. Você se sente estrangeiro dessa terra, exilado do que é belo, ansioso para ver o verde que por cerca de cento e vinte dias não se faz presente nos canteiros. Com exceção dos ipês que florescem na época da seca. 
As pessoas começam a se incomodar, a se sentirem mais tristes. E a vida aparenta ser mais monótona.
Mas eis que de repente, em setembro, as chuvas voltam e tudo que estava ali, latente, brota. Tudo fica mais verde.
Em São Paulo, não é tão diferente, embora a paisagem seja mais composta de concreto e poucos espaços  amplos. Na primavera a cidade fica mais bonita, agradável aos nossos olhos. Começamos a nos sentir abençoados pela natureza, pelo lindo espetáculo que ela nos oferece contrapondo a essa visão cinza. Sentimos, enfim, a vida envolvendo a todas criaturas. Não negando a beleza estupenda da primavera.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma rapidinha no meio da noite

- Ei, você aí! Acorda!
- Humm... Quem me chama?
- Vai, acorda. Abra um olho de cada vez. Isso. Agora o outro. Não tão depressa. Assim, mesmo.
Pode espreguiçar. Mas devagar para não travar.
- Como assim? Sou velha por acaso para travar?
- Não é nada disso. Quero garantir que você estará bem para uma rapidinha.
- Já amanheceu?
- Não. Ainda é meia noite.
- Puxa, mas não pode deixar pra amanhã? Estou com sono e não vou conseguir render em nada assim.
- É só uma rapidinha. Faça um esforço.
- Espere. Deixe-me pegar meus óculos. Espere aí. Quem é que está falando comigo? Quem é você?
- Vamos a uma charada: O que é o que é? Nasce grande e morre pequeno?
- Então não vou nem arriscar depois dessa. Não quero me frustrar.
- Deixe de ser boba. Você me pega todo dia, me usa, se aproveita de mim e não me reconhece? Me pegue logo em sua mão e comece a traçar as primeiras palavras no papel.
- Lápis? Você é o lápis?
- Até que enfim!
E assim, cá estou eu a obedecer esse meu amigo que de tanto me acompanhar passou a ter vida própria e se tornou muito exigente.
- E aí? Vai escrever ou não?
- Está bem. Podemos começar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um banho de cores

Hoje saí de ônibus de casa. O que era constante há um ano atrás, depois se tornou raro e agora nos últimos dias está frequente. 
Saí um pouco mais cedo para dar tempo de chegar na hora ao meu destino. 
Fui para a parada de ônibus perto de minha casa e aproveitei para reparar nas pessoas que também o aguardavam chegar.
Algumas conversavam entre si contando as suas dificuldades com o transporte coletivo. As mulheres conversam mais. Os homens aproveitam para ficar ouvindo e no máximo complementam com alguma informação.
O ônibus chegou. Pegamos o caminho passando pela Pedroso até entrar na Teodoro Sampaio. Devido ao grande fluxo de carros e ônibus nessa rua, o trajeto é feito de forma mais demorada. Por isso, sempre escolho sentar em um banco próximo a uma janela. Assim, vou me distraindo com a paisagem. Bom, paisagem urbana, não é mesmo?
O trânsito parecia calmo. Mas em São Paulo, calmaria no trânsito não quer dizer ruas vazias. Apenas é menos cheio de carro que outros dias. A Teodoro Sampaio, por sinal, é uma rua, para quem não a conhece, de muito movimento e de bastante comércio de móveis e instrumentos musicais. Mas no seu final tem também algumas lojas populares de vestuário.
É interessante ver como as pessoas se aglomeram em uma calçada estreita e ainda param para verem vitrines sem se incomodar se estão atrapalhando o fluxo de outros pelo caminho. Elas se esbarram e fica por isso mesmo. Vejo também algumas pessoas que conversam entre si no meio do passeio sem se importar com quem vem andando. Não poderiam ir mais para o cantinho?
É uma bagunça só. Continuo olhando tudo pela minha janela. Mas eis que me chama a atenção algumas fachadas de lojas pelas suas cores exuberantes. Cores que vem quebrar a mesmice do concreto, da tinta desbotada.
Cores que me remetem aos meus tempos de criança, à imagem de um lindo quadro pós-modernista com várias cores na tela.
E assim me deixo banhar nelas; completo essa visão com imaginação mais colorida, ainda. Chego a suspirar de prazer por tanto estímulo visual. Algumas pessoas diriam  que é poluição visual. Mas para mim é vida.
Cores são vida para mim. Me estimulam a estar mais atenta, me dão coragem para prosseguir nos dias difíceis, me acalmam, me fazem dormir, me lembram de minha infância, que não só era mais colorida como costumava sonhar acordada.
Começo a fazer uma brincadeira mental. Vou pintando as fachadas com cores que mais gosto. Imagino o pincel deslizando pela parede. 
Vou mudando de cor conforme o ônibus vai avançando em seu trajeto.
Não me canso de imaginar. 
Mas já estou chegando.
Cheguei. Desço e vou atravessar a rua. Já não vejo mais as cores. Vejo carros apressados, pessoas mal educadas e o mundo voltando a ser cinza, preto e branco.

Me despedindo de uma amiga

Eu vi uma árvore chorando. E não foi nada bom vê-la assim. Acho que por um momento minha dor se juntou a dela. Eu vi o seu interior. Ela estava ali na calçada, sangrando. Suas entranhas expostas para quem quisesse ver; jogada na rua esperando ser removida. Não mais carregada pelo vento que balançava seus galhos e lhe criava a ilusão de que a carregava por aí.
Um dia você amparou velhos e senhoras cansados; foi abraçada por crianças que brincavam à sua sombra. 
Você estava conosco há tanto tempo. Estava presente enquanto outros espaços se expandiam e mais gentes chegavam. Você viu beijos e carícias trocados no escuro do dia. Você viu muitos sóis e muitas luas sobre você. Você fez parte do dia-a-dia desse bairro.  Respirou o nosso ar e registrou caminhares noturnos. Jamais julgou o que viu ou ouviu. Apenas aceitou o que era e cumpriu seu destino.
Mas agora você não pode mais se mexer. Foi brutalmente extirpada de seu lugar. A crueldade maior de quem lhe causou tamanha violência foi deixá-la para todos vê-la assim. 
E você chorou pelas suas vergonhas expostas. E a lágrima era vermelho sangue. 
Alguns passavam e a ignoravam sem ao menos lhe oferecer um olhar de solidariedade.
Outros, diante do fato, apenas lamentavam e seguiam em frente.
E lá estava você de testemunha de seu próprio destino. Quantas vezes, quando somos feridos pelas nossas adversidades ou pelo nosso fracasso, o que mais queremos é nos abrigar dos olhares alheios, curiosos ou, simplesmente, indiferentes?
Mas você ainda está lá. Envergonhada. Não resta traços de sua imponência de outrora.
Minha amiga, eu choro com você. Eu estava lá um dia antes de tudo acontecer. E eu a conheci inteira. Sua dignidade me amparou no calor do dia. Sua presença me mostrou o poder do Criador. 
Eu queria contar as histórias que você testemunhou. Mas eu somente a conheci agora. Só posso oferecer umas poucas palavras para que não esqueçam de você. Para que saibam que abrigou e foi sustento para tantas criaturas e que temos a esperança de que o vento, seu velho amigo, tenha espalhado partes de você por aí.
Talvez, algum dia nos arrependamos de nossos atos infames contra tantas outras. Oxalá, não seja tarde demais.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Elixir do amor

Jandira depois de anos de casada confessou às suas amigas que jamais falara mal de seu marido, Demerval. Sempre enalteceu suas qualidades.
Mas recentemente foi acometida de uma raiva por ele. Raiva não, ódio, ela frisou. Passou a odiar seu olhar, seu cheiro, seu jeito de andar, de comer...
Se estava dirigindo, ela se lembrava de algo relacionada a ele que aumentava sua raiva. Se ia para cozinha preparar o almoço lá estava Demerval dentro da panela olhando para ela com cara de tacho.
Os momentos desagradáveis teimavam em alimentar esse sentimento por ele.
Segundo Jandira, a coisa ia de mal a pior. Mas sob controle.
Agora, Demerval, estava de férias em casa. Não poderia ser pior.
Será que não teria nem espaço para sentir sua raiva? Aliás, seu ódio?
Na verdade, ela não estava se sentindo culpada. Isso não chocou suas amigas.
Afinal, quem já não sentiu raiva, por seu companheiro? Quem um dia não desejou se livrar dele?
Mas lá estava Jandira no mesmo espaço que Demerval. O ambiente começou a pesar. Ele começou a retribuir a animosidade. E farpas e silêncios foram trocados.
Basta! Basta, você!! Gritou, Jandira. Esse era o recado. Não toque em mim! A ordem veio o mais rápido possível.
Se Demerval virava as costas ela fazia aquele sinal com o dedo médio demonstrando quanto desprezo tinha por ele.
Mas o pior ainda estava por vir; ele fez uma pequena cirurgia. E silensiosamente, ela se recusou a lhe fazer todos os mimos com os quais estava acostumada a lhe tratar. Quando ele lhe virava as costas ela pensava, lhe lançando um raio fulminante: Quero que você se... Que coisa feia, Jandira! Mas que gostoso, Jandira.
Essa guerra quente e silenciosa se arrastou por dois meses, até que um dia Jandira ficou doente. Ops!!! E agora?
Demerval ressentido com o tratamento dado pela esposa titubeou diante do que fazer. Depois de um dia se afligindo, sem com quem dividir o conflito, pois sabemos que homens não formam o clube do Bolinha para conversar assuntos domésticos, acabou cedendo ao senso do dever e pô-se a cuidar de sua esposa.
Jandira, contrariada, teve que engolir de vez sua raiva.
Esta, a cada novo gole de um xarope dado por Demerval, ia se diluindo. 
E assim, de xarope a um elixir do amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bom pra pele é peão de obra!

Ei! Psiu! Fiu, fiu!
Finge que não ouviu.
Ei! Psiu! Fiu, fiu!!
Segue empinada. Segue em frente.
Pega um tijolo, põe argamassa.
Trabalha a massa.
Músculos saltados, macacões suados.
Só não perderam o olhar certeiro.
E lá vem a moça passando pela calçada.
Fiu, fiu!
Não é comigo!
Ela lança uma rápida olhada e se vira rapidamente. Continua andando empertigada. Fingindo que não é com ela.
- Rapaaaz! Olha só que piteu!
- Ela pode ser até bonitinha, mas prefiro coroa.
Um sorriso disfarçado. Satisfação e prazer.
Todo trabalho é digno. Mas convenhamos, canteiro de obra é tão cheio de dignidade que faz muito bem a uma mulher.
Ao chegar em casa, a moça só pensa nos elogios. E chega quase a se convencer deles, mesmo acreditando não fazer jus a eles.
Afinal, aos quarenta e quatro anos foi preterida por um e mesmo não se considerando bonita foi preferida por outro.
Adeus, terapias. Adeus, botox. O que faz bem, mesmo, pra cabeça e pra pele é peão de obra.
Você remoça pelo menos uns cinco anos. E tudo isso aos cuidados de especialistas. Em mulheres, é claro.
Atenção, todas vocês! Antes de saírem de casa, procurem passar por uma construção. Lá é que tem homem de boa pegada e com boa cantada.
Deem-se uma chance de ouvir a quem, de verdade, entende de botar a mão na massa.

domingo, 12 de setembro de 2010

Tamanho é documento

Certa senhora, de meia idade, divorciada há pouco tempo, não tinha, ainda, encontrado a chance de se aventurar no terreno amoroso e quem dirá no sexual.
Porque você há de convir que são coisas muito diferentes. Amor para quem está ferido pode ser ameaça aos seus sentimentos. Sexo... Bem, sexo pode ser tão bom que você não vai querer outra coisa, e daí pode não conseguir um parceiro a altura para satisfazê-la.
Mas assim mesmo, a senhora aceitou um convite para jantar de um certo senhor que a havia conhecido em uma festa.
Dia marcado, hora apropriada para um encontro com segundas intenções, a senhora se arrumou de forma elegante e em seu carro saiu de casa. É claro que com toda ansiedade e o coração aos saltos como se fosse a sua primeira vez. 
A verdade é inegável quando nos dispusemos a nos envolver novamente com alguém, após um rompimento amoroso, mesmo que seja furtivamente, nos causa insegurança e sentimentos próprios de um ou uma adolescente.
Mas ela foi corajosa. Seguiu em frente, apostando quem sabe na realização de seus desejos, ainda confusos pela pouca experiência.
Tudo bem que o senhor não fazia o seu "tipo". Mas depois de um certo tempo é melhor deixarmos essa bobagem de lado e irmos logo ao ponto crucial. As mulheres, e talvez os homens, desejam companhia, sexo de qualidade e alguém para chamar de seu. Nem que seja por pouco tempo.
E lá ia ela em seu carro pelas ruas ao encontro.
Detalhes do encontro ficaram restritos às quatro paredes, mas um ela deixou escapar.
Depois do jantar, conforme combinado e como parte do ritual do acasalamento, eles entraram no jogo de sedução.
Ela nervosa, ele cuidadoso.
Ela na expectativa. Ele fingindo total segurança.
Delicadamente se entregaram após um acordo silencioso de apenas usufruírem daquele momento.
Mas a senhora toda desconcertada, exposta em sua nudez, deitada e sentindo-se desconfortável, olhava por todo ambiente pensando em como havia parado naquele quarto. Procurava em sua mente um motivo que a teria levado a aceitar aquele encontro.
De repente, olhou para um canto do quarto e visualizou um minúsculo sapato. Pensou ser seu, mas reparou que eram bem masculinos. 
Após um tempo, o senhor se levantou, se trocou, calçou aqueles sapatos e ela decepcionada se recusou a acreditar que se deitara com um homem que calçava o mesmo número que o seu.
Aquilo não! Já era demais para ela. Jurou não encontrá-lo mais. Contrariava o seu ideal de homem macho.
E assim acrescentou aos pré requisitos de um parceiro ideal. Pelo menos seis números a mais que o dela.

sábado, 11 de setembro de 2010

Seu Bombeiro, vem apagar o fogo!!!!

A moça estava lá entediada já nas primeiras horas da manhã, deitada na cama pensando em como seria mais um domingo de sua semana.
É claro que ela não podia deixar encerrar uma semana tão boa de maneira tão chata. 
Pra começar, os domingos não são fins de semana. Domingo é o primeiro dia da semana que devemos começar com muito estilo e criatividade.
E assim...Lá estava ela na cama, olhando o teto sem ter a menor idéia do que faria com seu domingo.
Pensou, viajou e... Eureka! Teve uma idéia.
Num ato de sapequice, acendeu duas velas em seu lado da cama e danou a gritar: Fogo! Fogo! .
Chamava pelo bombeiro, desesperadamente. Venha, Seu Bombeiro, apague o fogo! Seu Bombeiro demorou um pouco para chegar e não entendeu nada, por um tempo. Quando ele se deu conta, a roupa da moça queimava e ela no desespero a tirava apressada, gritando mais alto: Fogo! Fogo! 
Ele apagava uma vela, e quando ia apagar a segunda, a primeira acendia novamente. Ainda reclamou que o fogo não dava para apagar.
Seu Bombeiro, e aí? Não dá conta de apagar o fogo? Sopra forte, estica a mangueira, molha o pavio.
E nada do bombeiro apagar o fogo. E a vela ia se consumindo! O pobre do Seu Bombeiro teve uma idéia.
Pegou a vítima em seus braços e a jogou sobre a cama. 
As velas se apagaram, enfim.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dona Therezinha e a massinha

Dona Therezinha é uma senhora de uns 70 anos, muito falante e ao mesmo tempo muito curiosa. Após uma queda, da qual ela não se lembra como aconteceu, seu médico indicou um tratamento fisioterápico. 
Essa senhora é minha colega na clínica de fisioterapia. Ela tem me chamado a atenção por, além de ter uma pele maravilhosa na sua idade, passa o tempo todo querendo saber a história de cada um sobre como foi parar numa sala de fisioterapia. "Aonde foi que você se machucou? Como foi? A quanto tempo você está fazendo fisioterapia?"
Ela não se cansa de perguntar. E ainda costuma perguntar as mesmas coisas à mesma pessoa mais de uma vez.
Fazer o que? Essa insistência dela em querer saber tudo do outro e falar de sua família, coisa que ela faz também, me fez perceber o quanto essa senhorinha é carente. Filhos crescidos, casados, distantes e solidão instalada.
Meu coração amoleceu dessa vez. Tive que quebrar o pacto que havia feito comigo de falar o mínimo possível e ouvir o máximo. Não que ela deixe alguém falar. Mas antes eu ficava um pouco de lado para não dar a deixa. Me rendi. Fiquei de frente para ela. E foi a conta. Ela começou a puxar um  assunto e outro. E nada de fazer os exercícios. O que ela tem que fazer é enrolar uma massinha com a mão direita pra lá e pra cá. Mas o que ela tem feito mesmo é enrolar o tempo entre um papo e outro.
Reclama daqui, reclama de lá, seja em pé ou sentada quer a atenção ao dizer que está cansada.
A sua maior preocupação é quando ficará boa. "Será que vou ficar boa com dez sessões?" 
Mas diante do fato de fazer corpo mole para os exercícios, a massinha vai ficando mais enroladinha e menos amassadinha. E o tempo vai se extinguindo até a hora de terminar a sua sessão. 
E lá vai D. Therezinha para casa com a ilusão de que logo, logo, estará liberada da fisioterapia.
Com certeza nós vamos continuar a vê-la por um bom tempo e esse tempo será esticado como a massinha da D.Therezinha.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Novos caminhos se abrindo

Quem costuma ler o que escrevo pode definir meus textos como palavras vindas de muito pensar sobre minha existência e o fazer da vida.
Tenho procurado diversificar os temas que venho escrevendo. Me aventurando pela palavra mais solta.
Só não contava com algumas dificuldades. Sobretudo, porque as palavras retratam nossa alma. O que carregamos de sentimentos, de impressões sobre a vida, qual filosofia acreditamos ser válida, que religião temos, que compreensão temos de nós mesmos.
Mas como é uma aventura escrever e não uma obrigação estou me dando um tempo para me adaptar a um novo estado de espírito. Estou buscando ampliar meus horizontes, principalmente, abandonar o lugar em que me situo para permitir um voo mais distante de mim mesma.
Não vou dizer que isso tem representado um "que" de perigo para mim. Não. Não tenho medo de mim mesma. Já voei antes e posso confiar em meus instintos sobre a minha capacidade de pousar em um lugar bom.
O problema é que enquanto voo, me aventuro, vem me acompanhando uma voz, que insiste em me prender ao chão, ao terreno conhecido e confortável. O terreno pelo qual eu tanto andei e rastreei para prever os acontecimentos. 
Negar a minha natureza sempre foi um tanto difícil para mim. Ao contrário, estou sempre em busca de ser fiel a ela. Acontece que minha alma é um pouco... Pouco? Definitivamente, ela é muito do mundo. Dos ares. Mas entendo que é preciso aterrissar de vez em quando para  saber o quão longe ainda posso ir.
É neste momento que a voz se faz mais alta em mim, mais vibrante querendo prender-me ao solo. Esse conflito me acompanha sempre.
E se eu me permitir a ouvi-la com certeza não poderei viver plenamente. Estaria mutilando uma parte de mim.
Propus a mim mesma, recentemente, e claro, compromisso assumido tem que ser cumprido, que iria em frente atendendo aos meus mais antigos e profundos anseios.
Tudo é um exercício. A alma também exercita. Ela rompe, ela inverte toda lógica e faz a vida parecer um absurdo. 
Tenho exercitado o estado mais espontâneo de mim mesma. Tirado alguns pesos. Caminhado por caminhos que não havia trilhado, ainda, mas já curiosa por conhecê-los.
É um desafio e tanto. Às vezes espero aprovação externa, devo confessar sem medo algum de ser mal entendida. Não acho fraqueza e nem acredito que vivamos tão alienados do mundo e suas opiniões. Só preservo o que me parece mais genuíno em mim mesma e vou contrabalançando até achar a música perfeita para ser executada pela minha alma. 
É isso aí que acontece quando queremos assumir de fato o que desejamos. Podemos encontrar o que tanto temos buscado, e pode ser que não tenhamos como voltar atrás.
Se você me encontrar hoje, depois de algum tempo sem ter me visto, de repente pode se surpreender com o fato de que não terei respostas para te dar ou explicações porque estou indo por esse caminho.
Minha amiga, meu amigo, de verdade?
Eu não sei mesmo aonde tudo isso vai dar.
Mas você pode me perguntar se estou feliz. Isso pode.
Porque vou ter uma resposta pronta para você.
Estou feliz!!!

domingo, 5 de setembro de 2010

Brincar de viver

Hoje é um daqueles dias em que você acorda tão feliz que quer mais é continuar acordada por muito tempo. Medo de dormir e toda essa felicidade desaparecer com os maus humores próprios do dia-a-dia.
Acordei toda faceira. Qual uma menina que está prestes a ganhar um presente de aniversário ou como se estivesse prestes a realizar aquela viagem.
De vez em quando nos tornamos assim, leves e plenos.
Não tememos nada e queremos mais é compartilhar com quem está ao seu lado esse bom momento.
Muitos se sentem culpados por se sentirem assim de vez em quando.
Mas quando nos damos o direito de usufruir desse saboroso momento nos desmanchamos diante do próprio deleite de ser feliz.
Simples assim. Nem mais, nem menos. Tudo na medida para um ser que almeja estar ao lado de quem ama para SERMOS felizes.
Não me canso de repetir a palavra feliz, por ser exatamente o que quero dizer.
Portanto, se embriague nela, saboreie comigo essa energia brilhante que tenho para compartilhar hoje.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Papo de mulher não tem espaço para homem

Papo de mulher não tem espaço para homem, mesmo. 
Tenho ido à fisioterapia há uns quinze dias, pela manhã.
O fato de estar confinada em uma sala por quarenta minutos com fios presos ao meu ombro direito não tira o prazer de ouvir outras mulheres como eu tentando calar suas dores. Apenas suas dores. A boca continua falante e criativa. Às vezes ouço alguma gargalhada masculina.
Preferi me colocar como ouvinte apenas. Há muito ando disposta a ouvir mais do que falar. Aliás, essa foi a decisão mais sábia que tomei no início do ano.
Mas voltando ao papo de mulheres, nada mais engraçado e surrealista que os assuntos. Os sapatos são a preferência, em seguida os afazeres domésticos. Poucas se manifestam quanto à sua profissão. Outro dia, uma contava que recentemente havia ganhado sete pares de sapato e que assim mesmo comprou mais dois. Não pôde resistir a essa paixão. Todas ouviram caladas essa manifestação de exagero, mas duvido que também não tivessem algo a confessar sobre sapatos. Todos sabemos que mulheres são taradas por sapatos.
Quanto aos afazeres domésticos, aí inclui filhos e cachorros, elas começam por uma listagem do que deveriam fazer mas não tem tempo. Reclamam do pouco tempo e quando pensam que estão livres pela chegada da maturidade, chegam netos, noras e genros e os rituais de cuidados são retomados.
Todas querem falar ao mesmo tempo do seu mundo. Como se fossem diferentes umas das outras.
Todas nós queremos ter um minuto de fama entre as outras. Com isso elas costumam falar ao mesmo tempo, cometendo esse pequeno deslize na etiqueta. Perdoável, com certeza.
De vez em quando aparece algum homem neste reduto, quase que exclusivamente feminino, e tenta participar pelo menos com algum comentário em detrimento de seu próprio universo masculino.
O máximo que se permite é fazer uma pergunta e nem assim vem acompanhada de réplica.
Por que será que eles se intimidam tanto em se manifestar? Será por medo ou por desconhecimento do assunto?
Não vou esquecer da próxima vez de perguntar a um deles o que pensam e o que sentem nesse ambiente.
O certo é que o tratamento ao invés de ser doloroso é prazeroso, cheio de alegria e leveza.
A dor? Pode vir, pois em algum lugar terá um grupo de mulheres que irá operar a cura pelo papo.