Dona Therezinha é uma senhora de uns 70 anos, muito falante e ao mesmo tempo muito curiosa. Após uma queda, da qual ela não se lembra como aconteceu, seu médico indicou um tratamento fisioterápico.
Essa senhora é minha colega na clínica de fisioterapia. Ela tem me chamado a atenção por, além de ter uma pele maravilhosa na sua idade, passa o tempo todo querendo saber a história de cada um sobre como foi parar numa sala de fisioterapia. "Aonde foi que você se machucou? Como foi? A quanto tempo você está fazendo fisioterapia?"
Ela não se cansa de perguntar. E ainda costuma perguntar as mesmas coisas à mesma pessoa mais de uma vez.
Fazer o que? Essa insistência dela em querer saber tudo do outro e falar de sua família, coisa que ela faz também, me fez perceber o quanto essa senhorinha é carente. Filhos crescidos, casados, distantes e solidão instalada.
Meu coração amoleceu dessa vez. Tive que quebrar o pacto que havia feito comigo de falar o mínimo possível e ouvir o máximo. Não que ela deixe alguém falar. Mas antes eu ficava um pouco de lado para não dar a deixa. Me rendi. Fiquei de frente para ela. E foi a conta. Ela começou a puxar um assunto e outro. E nada de fazer os exercícios. O que ela tem que fazer é enrolar uma massinha com a mão direita pra lá e pra cá. Mas o que ela tem feito mesmo é enrolar o tempo entre um papo e outro.
Reclama daqui, reclama de lá, seja em pé ou sentada quer a atenção ao dizer que está cansada.
A sua maior preocupação é quando ficará boa. "Será que vou ficar boa com dez sessões?"
Mas diante do fato de fazer corpo mole para os exercícios, a massinha vai ficando mais enroladinha e menos amassadinha. E o tempo vai se extinguindo até a hora de terminar a sua sessão.
E lá vai D. Therezinha para casa com a ilusão de que logo, logo, estará liberada da fisioterapia.
Com certeza nós vamos continuar a vê-la por um bom tempo e esse tempo será esticado como a massinha da D.Therezinha.
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